All you need is um pouco de cultura e vergonha na cara




Se você, assim como eu, achava que a turma do "imagina na Copa" já tinha incomodado o suficiente com a escolha do Rio de Janeiro como sede dos próximos jogos olímpicos, dê cá um abraço. Pois é, amigos, a ladainha ganhou um novo episódio com o encerramento da Olimpíada de Londres e continuou hoje com a divulgação da música-tema de 2016

Posso viver mil anos, mas nunca vou conseguir entender que tipo de coisa se passa na cabeça de quem abre a boca para dar sua opinião cretina sobre o que não sabe, muitas vezes apoiando-se somente em lugar-comum. Assim que o Rio foi declarado campeão na disputa com Madrid, o que não faltou foi gente para dizer que o dinheiro gasto seria melhor utilizado em saúde e segurança, que isso seria desculpa para desvio de dinheiro e todos os outros clichês que essa turminha do barulho gosta de repetir. A constatação é a de que esse tipo de opinião unilateral e pouco embasada vem de gente que não se interessa nem minimamente por política e só gosta mesmo de posar como cientista social. Não estou negando que existam coisas muito podres no meio de tanta alegria, apenas que este tipo de discurso está sempre pronto para qualquer circunstância. Mas essas pessoas ignoram outros pontos de vista. Ser uma potência mundial passa por fazer parte de grandes eventos, sejam eles reuniões sobre economia e desenvolvimento sustentável ou festividades como copas e olimpíadas. Isso traz visibilidade, força investimentos e melhorias para o país e coloca o Brasil no centro das atenções mundiais. Isso tudo tem consequências boas também. 

Então mais um absurdo: o próprio brasileiro, que presencia de camarote o país realizar um evento como o Carnaval, que tem uma duração de (pelo menos) quatro dias com muita alegria, samba, micareta, abadá, putaria purpurina, lantejoula e alegorias, duvida de sua capacidade de fazer o que sabe melhor: festa. A gente escuta samba-enredo desde que nasce, mas uma festinha de 3 horas o Brasil não saberá realizar? É inacreditável. Pois eu apostaria que a mesa do COB já está abarrotada de currículos de carnavalescos, coreógrafos, bailarinos e costureiras querendo ter seu nome relacionado à produção das festividades que abrem e encerram o evento. Não se preocupem, pois disso a gente entende bem. 

Só que esse ceticismo é apenas o início dos problemas. Lendo os comentários de reação à bela festa realizada no encerramento dos jogos e ao vídeo Os grandes deuses do Olimpo visitam o Rio de Janeiro, entende-se que existe enraizado no brasileiro um preconceito em relação a si mesmo e suas origens. E isso não é sequer novidade. Já tivemos demonstrações recentes e claras disso quando, em consequência da eleição de Dilma Rousseff, muitas pessoas declararam seu ódio aos nordestinos, que, segundo os coitados que assim diziam, seriam os responsáveis por esta tragédia. Portanto, não chega a ser chocante que gente sem respeito por cidadãos da mesma nacionalidade que a sua não o tenha também pela cultura brasileira. 

Enquanto os artistas britânicos se apresentavam no Estádio Olímpico de Londres, jovens em sua ânsia de vomitar bobagens insistiam em fazer comparações de âmbito cultural entre as duas nações. "Enquanto os ingleses mostram Beatles, a gente tem Cláudia Leitte", "aqui, em vez de Spice Girls, vai ser Rouge", "eles têm Queen, nós temos Restart" (esta última é invenção minha, mas não duvido que tenha existido). Mas melhor que tudo isso foi notar o desespero dos brasileiros diante das maravilhas britânicas e o horror de não possuir as mesmas referências que desfilaram no estádio (ignorando completamente que One Direction e Russell Brand têm tanta relevância para mundo quanto muitas porcarias que se consomem aqui no Brasil). 

Pois digo que, para as pessoas que se sentem muito melhor representados pela cultura europeia do que pela brasileira, os 8 minutos destinados à prévia do Rio 2016 foi um tapa na cara. Marisa Monte, Renato Sorriso, Seu Jorge, BNegão e Alessandra Ambrósio mostraram ao mundo que o Brasil é culturalmente rico, tem uma música contagiante e não ficará devendo nada a Londres (sem mencionar a presença de Pelé no finalzinho). Apenas índios, capoeira, samba e futebol não representam o seu Brasil? Então saiba que isso tudo representa a imagem do Brasil para a maior parte do mundo. Não tem como fugir desses clichês. Seria o mesmo que a Inglaterra deixar de fora Beatles, Big Ben, os ônibus vermelhos de dois andares ou a J.K. Rowling. Aposto que para muitos ingleses isso não está diretamente relacionado ao seu cotidiano, mas é nisso que as pessoas de fora pensam primeiro quando se fala do lugar. Você pode curtir Los Hermanos, Móveis Coloniais de Acaju, ouvir folk e viver em São Paulo (onde não tem sequer uma planta, muito menos tribos vivendo em mata intocada), mas não é isso que inglês quer ver. Aceite que eles querem cair no samba, ver mulata rebolando os glúteos, vestir a camisa amarela da seleção de futebol, colocar cocar de índio. 

Embora os comentários feitos durante a festa de encerramento tenham irritado bastante, o melhor do pior estava guardado para hoje. Foi quando aquele autopreconceito já mencionado ficou gritante demais. A divulgação deste vídeo escancarou a ignorância que os jovens brasileiros em geral (ou pelo menos os que se dão ao trabalho de vir à internet fazer comentários estapafúrdios) possuem em relação à própria cultura. Sim, além de menosprezá-la, eles claramente a desconhecem. Muita gente foi a público reclamar da escolha dos artistas que participaram do clipe. Pelo que pude entender durante o pouco tempo que consegui encarar a realidade me esbofeteando as duas faces, a maioria pedia melhores representantes, pois aqueles do vídeo não fazem jus à nação brasileira.

Aposto que essa gente indignada e culta não entendeu, por exemplo, o que Marisa Monte cantou quando passou brevemente pelo palco do Estádio Olímpico naquela biga (para manter as referências olímpicas) de guarda-chuvas azuis. Será que eles sabem que se tratava das Bachianas brasileiras de Villa-Lobos? Ou melhor, será que essa turminha pelo menos sabe quem é e o que fez Heitor Villa-Lobos? Será que aqueles que reclamam da presença do Mr. Catra (por quem nutro simpatia zero) nunca dançaram e cantaram enlouquecidamente hits como My Humps e Don’t Want No Short Dick Man? Será que o povo que reclamou de colocarem um "bêbado" no vídeo já ouviram falar de Dioniso, o deus grego das festividades e do vinho (que foi substituído por cerveja)? Será que o cidadão que disse que o Brasil não tem nada cultural para mostrar (sim, li isso também) tem noção da importância e qualidade de nomes como Adriana Calcanhoto, Lenine, Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Tom Zé, Sérgio Mendes, Hermeto Pascoal, Cartola, Noel Rosa, Dorival Caymmi, Martinho da Vila, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Elis Regina? Não me entendam mal, ninguém é obrigado a gostar de nada disso, mas ignorar nossos artistas e dizer que não temos nada para mostrar extrapola qualquer nível de insensatez. 

Sim, tudo isso me deixa Afrodite da vida. Sei que não deveria ser dada muita importância para o julgamento de gente que reclama de cultura brasileira e nunca leu Machado de Assis porque 'não quer ler com um dicionário do lado'. Mas é inevitável. Tenho a sensação de que os jovens estão cada vez mais imbecilizados e de que a liberdade de opinião proporcionada pela internet está criando esses monstrinhos que adoram fingir preocupações que não possuem com a sociedade. Pessoas que acham que o fruto do vizinho é sempre melhor e produtos de língua portuguesa não valem tanto quanto o Crepúsculo da vez. O que preocupa é que esses mesmos jovens deveriam estar aprendendo para poder mudar o que existe de errado. Porque, não, o Brasil não é perfeito, mas a síndrome de vira-lata também não tem utilidade nenhuma e prejudica todos os aspectos sociais do país – escritores não conseguem publicar ou vender seus livros, músicos não conseguem competir com os hits da Billboard, ninguém se sente motivado a ajudar a alterar problemas políticos. É triste testemunhar o brasileiro menosprezar o que o país tem de mais precioso, que é sua pluralidade cultural.

The Vampire Diaries: 10 motivos para ver e amar



Por muito tempo me mantive em silêncio. Mas vocês precisam saber: The Vampire Diaries vale cada minuto assistido!

Honestamente falando, ao contrário de muita gente, não tive tempo de desenvolver nenhum preconceito com a série. Nunca me falaram para assistir, então sequer conhecia ou sabia do que se tratava. O mais perto que eu chegava de uma trama sobre vampiros era através de True Blood, que só vejo porque passa durante as férias da maioria das outras que acompanho. Ainda assim, estou muito perto de abandoná-la, pois não sei se consigo suportar sequer mais meia temporada da Tara destruindo cada cena em que aparece com seus dramas e voz chorosa. Sério, não tem mais Alcide que compense o esforço.

Muita gente imediatamente aciona do dispositivo da repulsa à menor menção da palavra "vampiros". Compreensível. Eu mesma ficaria muito cética em relação a TVD se a série não me tivesse sido muito bem recomendada por alguém de confiança. Há ainda o fator The CW, que em nada ajuda a credibilidade do conjunto da obra. Entre outras coisas, o canal é responsável por títulos nada atrativos como Gossip Girl e Pretty Little Liars. Basicamente, séries horrendas, de enredos bobos, com apelo adolescente-feminino (ô nicho...), estreladas por atores de desempenho duvidoso. (Não é preconceito, mas conhecimento de causa. Acompanhei GG até o início da 3ª temporada e continuo insistindo com PLL Sabe-Deus-Por-Quê. É a próxima a fazer companhia a GG no limbo de séries abandonadas por mim.)

Mas você continua aqui e confia em mim (e acredito que você leve minha opinião minimamente em consideração, afinal está lendo isto). Então quero listar alguns dos motivos por que você deve momentaneamente abrir seu coração a novas experiências, passar pelos primeiros 5 episódios (que são mais fracos, reconheço) e deixar a mente livre dos traumas causados pelo fenômeno Crepúsculo ao redor do globo terrestre. E, já que falamos no livro da tia Meyer, vamos ao primeiro motivo pelo qual você deveria dar uma chance a TVD:


1. The Vampire Diaries NÃO é Crepúsculo. Acha pouco? Pois eu considero suficiente saber que não vou precisar suportar aquele draminha narrado em primeira pessoa pela Bella, ouriçada pelo corpo branco, gélido e glitterizado do Edward. Não sei quanto a vocês, mas, na minha opinião, isso é determinante. Este item, sozinho, já é um pacote de vantagens.

2. Tem enredo além de vampiros e triângulos amorosos. Porque eu acho muito simples criar um romance protagonizado por personagens sobrenaturais só pelo shock value e não dar a essa condição nenhuma utilidade. Concordo que o romance ainda é importantíssimo (afinal, ainda estamos falando de uma série teen da CW), mas não é só disso que se trata. TVD tem uma mitologia muito bem construída, que não subestima o espectador escondendo-se sob o escudo da desculpa 'é apenas entretenimento'. A tramas são bem amarradas, usam o recurso de flashbacks e, para cada coisa revelada, mais perguntas começam a surgir (e isso não inclui "por que eu ainda vejo isso?").

3. A série é melhor que os livros. Sim, TVD é baseado em uma série de livros de autoria de L. J. Smith, que escreve muito mal, diga-se de passagem. Admiro quem leu aquele monte de bobagem e viu naquilo algum potencial. Não é muito superior a Crepúsculo, mas pelo menos foi escrito antes da chata da Bella pensar em existir. Não sei como dona Smith ainda não processou tia Meyer, porque as semelhanças – inclusive qualitativas – são absurdas. A protagonista é um projeto de vadia, o mocinho é tão interessante quando o Edward etc. A série televisiva consegue consertar o que há de ruim e usa basicamente apenas o esqueleto das tramas. Ufa, né?

4. Velocidade de desenvolvimento das tramas. Acho que este é o maior trunfo de TVD. Se surgir algum mistério em determinado momento, pode saber que você não vai precisar assistir a 6 temporadas para desembocar num túnel de luz protegido por uma rolha. Dali 3 ou 4 episódios, no máximo, as coisas farão sentido. Sério, o ritmo é frenético. Não é raro que TVD recompense os fãs com episódios que parecem um season finale. De repente, aquilo que parecia ser o plot mais importante apresentado na série até o momento é substituído pelo próximo, o vilão poderoso não é mais tão poderoso e coisas essenciais revelam-se ferramentas de distração para algo muito maior. Bate sempre aquele desespero do tipo "o que esses produtores vão fazer agora, depois dessa bomba? Acabou a temporada aí, não tem como ser melhor". Mas sempre tem, yey!

5. Morre até quem já morreu. Isso é muito divertido. Se, por um lado, aquele personagem carismático ou com potencial de mudar todos os acontecimentos não sobrevive o suficiente para dizer Dear Diary, por outro, o mesmo acontece com gente muito chata. Nenhuma preocupação é necessária - aguenta mais um pouco aí que logo, logo alguém dá um jeito de acabar com o indivíduo. Vale decapitação, empalamento, arrancar o coração com a mão. Nada de métodos tradicionais como armas de fogo ou facas. Estilo é tudo.

6. Festas! Desde The O.C. eu não acompanho uma série com tantas festas. Para uma cidade pequena como Mystic Falls, a galera tem bastante para comemorar. Mas é tudo justificado: as chances de acontecer merda e alguém morrer são multiplicadas exponencialmente em cada uma dessas festas. Os cidadãos precisam delas, portanto.

7. Kevin Williamson feat. Julie Plec. Já ouviu falar em Dawson’s Creek, Pânico e Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado? Pois bem, tudo isso consta no currículo do senhor Williamson, que produz TVD. Julie Plec, que escreve a série ao lado de Kevin, também trabalhou com ele na série Pânico. E qualquer pessoa que tenha acompanhado as obras do tio Kevin sabe que ele tem um fraco por triângulos amorosos (Joey, Dawson e Pacey não me deixam mentir) e filmes de terror. Então, naturalmente, TVD consegue reunir todos esses elementos, sendo muito suave em alguns momentos e criando atmosferas de suspense regadas a muito sangue em outros. Tem como isso dar errado? Tem, não.

8. Trilha sonora. Conheci Foster The People, Andrew Belle e Ross Copperman graças à trilha de TVD. Só o episódio piloto tem Katy Perry, Placebo, MGMT, OneRepublic, tudo junto. Toda a trilha da série é escolhida com muito carinho, e isso é perceptível pelos comentários dos próprios Kevin e Julie quando ambos falam sobre sua cria (nos extras dos DVDs sempre rola um "I looooove this song"). Assim como o universo em que vivem os personagens de Mystic Falls, as músicas também reproduzem o mundo em que os jovens vivem hoje. O que eles escutam não é muito diferente do que você leva no seu MP3 player. I just came to say hello! Tuntz, tuntz, tuntz ♪

9. Família Original. Não vou me alongar muito nisso, porque, caso você ainda não acompanhe a série, qualquer coisa que eu fale aqui sobre os Originais é spoiler. Mas resumindo: uma família IN.TEI.RA de vampiros com uma quantidade de problemas em que nem Regina Volpato daria jeito. Guarde esses nomes: Klaus, Elijah, Rebekah, Mikael, Esther, Kol e Finn. Vai na minha, assiste isso logo!

10. Poder amar e odiar a mesma atriz. É inevitável, goste você de protagonistas boazinhas ou antagonistas bitches. Nina Dobrev atua como Elena, a mocinha, e Katherine, uma vampira bandida. É incrível como normalmente as pessoas se esquecem de que se trata da mesma atriz quando falam de Elena e Katherine. E o fato das duas serem iguais (afinal, são interpretadas pela mesma atriz, dã) não é nada gratuito. Você vai ver... Já não mandei assistir isso?

Vilões (sugestão dos colaboradores): TVD tem os ótimos vilões, que se alternam para ver quem ferra mais com a vida da pobre Elena, começando por Damon e terminando na família de Originais. Em TVD, o vilão de hoje pode ser a vítima de amanhã, e depois de amanhã o vilão de antes de ontem pode ter que se aliar com o vilão de ontem para derrotar o vilão de hoje, que certamente terá outro para caçá-lo nos próximos dias. Parece poema do Carlos Drummond de Andrade, mas this... is The Vampire Diaries!

BÔNUS
Se ainda não fui capaz de convencer ninguém, olha o elenco:

Espero ter sido clara (já terminou de baixar a primeira temporada?).


Editado 6 anos depois: A série degringolou depois da terceira temporada. Aparentemente os showrunners (Kevin Williamson saiu!) não souberam mais o que fazer com a trama depois que ***** virou vampirx. Ao final da sexta temporada, nem mesmo a protagonista, Nina Dobrev, quis continuar na série. Preferiu ir fazer filme ruim a ter que aguentar os plots ruins e o climão com o ex-namorado, Ian Somerhalder (que virou um mala de verdade). A série acabou melancolicamente com uma audiência péssima na 8ª temporada e nem o elenco quer ter mais nada a ver com a série. Eu poderia reescrever o post com motivos para ODIAR.

Glee: já parei de acreditar



Nunca tive a ilusão de que Glee tivesse uma trama impecável. Aliás, acho que a própria série nunca quis enganar ninguém (a princípio): um roteiro simples, rápido, umas músicas pops aqui e ali, estereótipos de losers habitando os corredores da escola, um grupo de alunos – muitos dos quais, aliás, sem talento algum para a música – tentando superar problemas de popularidade, alistando-se (ou sendo coagidos a) ao coral da McKinley High School. O gênero é claro: comédia musical adolescente. E, se qualquer coisa nessa definição não o agrada, melhor nem ver. Já testemunhei muita gente incomodada com o sucesso de Glee simplesmente porque o conceito não lhe agrada. Poxa, eu não gosto de terror/nojeiras/zumbis, então não vejo The Walking Dead ou American Horror Story. Mas, dentro de sua proposta, Glee já foi boa. Sim, já foi. Triste realidade: não é mais.

Glee tinha um grande potencial. O piloto, que eternizou Don’t Stop Believing como hino da série, mostrava uma série despretensiosa e divertida, um roteiro que tirava sarro de seus próprios personagens e plots. Os personagens eram todos tão caricatos, as situações eram tão absurdas e tudo se encaixava tão bem! Ninguém se importava com o fato de que Sue Sylvester apresentava um comportamento psicopata incompatível a um educador (ou qualquer pessoa que se importe em ir para a cadeia); não havia problema no fato de Finn pensar ter engravidado Quinn só por tomar banho com ela; Kurt afetadíssimo e se identificando mais com as meninas era engraçadíssimo; Rachel mega bitch e egocêntrica era sempre imperdível. A falta de verossimilhança de muitas situações e a inexistente preocupação em impor o politicamente correto eram o que caracterizavam e davam a graça ao espetáculo. Oras, eles são losers, então nada como se referir a Tina e Mike apenas como “asiáticos” ou dar uma zoadinha com um cadeirante. Glee era ousada!

Então Glee começou a se levar a sério. As storylines, que antes eram dinâmicas beirando ao episódico, passaram a se arrastar. Os dramas que tantas vezes serviram e escape cômico viraram... Dramas verdadeiros. O Kurt, que era ótimo, passou uma temporada inteira lamentando sua vida de homossexual, e Ryan Murphy, espertíssimo como ele só, tirou ele do New Directions, criou uma nova escola, apresentou-nos a Blaine e originou o casal mais desprezível das três temporadas de Glee: Blaine e sua out of style gravata borboleta. E ele ainda reclama de levar raspadinha na cara. Acho é pouco.

O ponto é: Glee foi inteiramente descaracterizada junto com seus personagens. Agora a Rachel vive se sentindo culpada por querer o papel principal, coisa que a todo momento é pretexto para que a coitada saia dos holofotes como desculpa de deixar os outros brilharem também. Hoje em dia, se disserem para o Kurt ir cantar com as meninas, é capaz dele ficar ofendisíssimo e sair chorando da sala de ensaios. Aliás, cadê a amizade de Mercedes e Kurt? Falando em Mercedes, já cansou faz tempo dessa história de que ela quer ser o centro das atenções junto com a Rachel. Falando em Merdeces de novo, alguém comprou esse romance dela com o Sam? Eles estudaram coisa de um ano juntos e nenhuma faísca (o que deve ser explicado pelo fato de que ele estava mais interessado pela Quinn, talvez?), agora querem que eu aceite esse drama dos dois juntos. Sério? Sue não sabe se fica ou se vai, se ama ou odeia, se quer destruir o coral ou se quer ajudar o chatíssimo do Schuester a conquistar a Emma. Ou seja, a série conseguiu estragar a melhor personagem que tinha.

Nem as músicas salvam a série. Prova disso é que, antes de eu começar a escrever este texto, fui procurar em um dos últimos CDs algo em que me inspirar. Naveguei por músicas e mais músicas até conseguir encontrar algo que me empolgasse. E, quando o coral coadjuvante faz as melhores performances da temporada, algo está definitivamente errado. Alguém prefere ouvir Kurt e Rachel encenando sucessos da Broadway com que ninguém se importa (e não acho que o público-alvo da série sejam os amantes de musicais consagrados) ou assistir a Santana e Mercedes no delicioso mash-up de Someone Like You e Rumour Has It? Não há o que pensar, certo?

Minha mágoa com Glee é que a série me decepcionou. Apesar de todas as críticas sobre o roteiro e as situações, eu comprei a ideia do Ryan Murphy. Era simplesmente honesta e tinha sua dose de ousadia. Nunca me preocupei com a verossimilhança. Colocasse umas músicas legais que se encaixassem com um mínimo de história que eu me dava por satisfeita, juro. Mas não me peça pra levar a sério uma história que não se decide entre o caráter dos personagens, que esquece tramas e cria divergências dentro de si mesma. Não me peça para levar Glee a sério, porque essa é demais até para mim. Vou é ver Smash, porque pelo menos lá os cenários luxuosíssimos são usados como metáfora da idealização dos artistas, não como recurso de coral escolar que vive chorando miséria até para ir a mais uma de suas trocentas regionals.

Geração 2.0 (mais para zero do que para dois)

Maitê: intelectual que defende a paralização das obras de Belo Monte.



Ainda me lembro como se fosse hoje do dia em que fui sugada para o esporte de discussões virtuais. Falei mal do Paulo Coelho em um fórum. Lancei uma opinião inocente e, ingênua, achei que no máximo alguns gatos pingados leriam. Para minha surpresa, descobri que mais pessoas gostavam do velho mago do que eu imaginava. Voltei lá para provar que eu estava certa e perdi o medo de expor minha opinião na internet. A esta, seguiram-se outras opiniões, outros debates e peguei gosto pela coisa.

Aliás, se existe algo de que eu gosto é provar que eu estou certa. Mas, obviamente, eu não cometo o erro de ir tomar partido em alguma discussão antes de fazer um estudo sobre o caso para fundamentar a minha opinião. Se eu entro em uma briga, é para ganhar. Se eu já vou com esse objetivo, significa que eu já me armei de argumentos que, no mínimo, me impeçam de parecer uma demente aos olhos das pessoas com que estou dialogando. Acerto sempre? Claro que não, mas é necessário que me provem onde estou errando para rever meus conceitos sobre determinado assunto.

Ultimanente, a possibilidade de discussão argumentada diminui em razão relativamente inversa ao acrescimento de comunidades e grupos virtuais. As pessoas parecem estar perdendo o hábito de entrar em um debate para provar seu ponto de vista ou ser convencido pelo outro polo da discussão de que precisa repensar seu posicionamento. Os membros-amebas desses grupos procuram pessoas com que se identificam, que compartilham seus gostos, e não para se aprofundar sobre o que estão falando. Se você clica no join de alguma comunidade/grupo de um cantor, por exemplo, a expectativa criada é a de que você irá lá dar um RT ou um [+1] em todos os elogios que já foram postados sobre o artista. Experimente dizer apenas que, poxa, você gosta do Zé do Cavaquinho, mas o último CD dele não ficou tão bom quanto poderia. Certamente alguém lhe brindará com o amistoso convite ao grupo “Eu odeio o Zé do Cavaquinho”, pois você, herege, é um traidor da causa das zé-cavaquetes e não merece o convívio daquelas pessoas. Você é um rebelde, um troll que apareceu apenas para desestabilizar a paz que reinava entre os fãs do Zé do Cavaquinho.

Tão ruim quanto um posicionamento cegado pelo fanatismo é a ausência total de uma opinião. Aproveitando-se deste vazio, pontos de vista parasitas farão desta mente intocada um hospedeiro de seus ideais. É claro que ninguém sabe de tudo. E muito menos somos obrigados a assumir uma posição em relação a tudo. Eventualmente surgirão assuntos pelos quais não nos interessamos ou sobre o qual nunca nos informamos e não há nada errado nisso.

O problema reside em aceitar a primeira versão dos fatos e não se preocupar em averiguar a veracidade das informações que chegam em cascata. A internet deveria facilitar o acesso à informação, mas, ao invés disso, parece (pelo menos a meu ver) estar criando um grupo de opinantes preguiçosos. Acostumados à velocidade da internet, são pessoas que acham absurdo perder 15 ou 30 minutos lendo um texto simples para adquirir informações confiáveis. Então, como em terra de cego, quem tem um olho é rei, ganha aquele que chega primeiro, independentemente de suas intenções e seus argumentos.

O último exemplo disso é o absurdo vídeo sobre Belo Monte. Seja você contra ou a favor de tal usina, precisa saber que as informações do vídeo são completamente contestáveis e chegam a induzir o espectador ao erro. Um dos mais engraçados é levar o público-cidadão a pensar que investimentos do Estado com o dinheiro dos cofres nacionais são prejudiciais ao povo. Seria com o dinheiro de quem? Dos políticos, do Zé do Cavaquinho, do seu vizinho? Obra de utilidade pública é realizada com dinheiro de impostos que pagamos mesmo, e nem poderia ser diferente. Dinheiro de iniciativa privada é colocado em jogo quando quem lucra é a iniciativa privada, não os cidadãos. Enfim, o vídeo em questão pode ser classificado como um desserviço. Se existiu nele alguma vantagem, foi a de levar alguns a procurarem informações corretas sobre Belo Monte. Infelizmente, estes são minoria.

O ponto de tudo isso é: desconfiem do óbvio. Sei que estamos condicionados ao senso comum, que, se alguém levanta uma causa em prol de uma minoria, a tendência é acatarmos os argumentos que nos chegam. Falou em Amazônia, pensou em desmatamento, em fim do mundo, em oh, meu deus, não deixem ninguém chegar perto do pulmão do mundo!; quando sabemos que uma pobre menininha foi expulsa da faculdade por causa de um vestido, a primeira coisa que se passa na cabeça é malditos machistas medievais que destilaram sua fúria em uma mulher! A vítima está por aí, nas páginas de fofocas sobre sub-sub-sub-sub-celebridades e parece que diploma ela nunca viu, nem conseguiu, nem ouviu falar. Pois é. (Não que o diploma deva ser obrigatoriamente o objetivo de qualquer ser vivente neste planeta, mas, para quem esteve tão preocupada em defender seu livre acesso à faculdade e lutar pelo seu direito de estudar independentemente de sua vestimenta, parece que o máximo que ela tem lido são revistas de fofoca na recepção de salões de beleza e consultórios de cirurgiões plásticos.)

Sou muito cética. Gosto de entender como pensam os dois lados de toda questão em que me enfio. Acho que esse hábito foi adquirido com um professor de redação no ensino médio. Segundo ele, a melhor forma de escrever é prever o que o leitor irá pensar sobre seus posicionamentos e se adiantar a ele, encontrando as brechas deixadas pelo caminho. É o que faço. Procuro furos nos meus argumentos, crio contra-argumentos, releio tudo muito atentamente para evitar um ponto fraco que possa me derrotar em qualquer discussão. O difícil, mesmo, é encontrar quem esteja disposto a discutir. São poucos os que escolhem o árduo trabalho do debate quando se tem maravilhas como o 9gag. Um clique e todos os seus amigos são informados sobre o que interessa a você. Discutir por quê? Compartilhar é o novo preto.

Música para os ouvidos



Call me obsessiva (achei “chamem-me” feio para começar um parágrafo, desculpa, língua portuguesa), mas, sim, falarei da Adele. Pensei várias vezes em escrever sobre ela, mas sempre me segurava, afinal eu venho falando dela há meses, já é a artista mais ouvida no Last.fm, vivo repetindo como não posso morrer antes de assistir a um show dela pessoalmente. Sinceramente, eu gosto dessas paixões doentias por alguma coisa. Sou muito de extremos: amo ou odeio.


Adele está aí para que todo mundo veja desde 2008, quando lançou o ótimo 19 – que eu só notei que era ótimo depois de me apaixonar pelo 21. Ganhou 2 Grammy, muita notoriedade, mas eu só ouvi o CD poucas vezes e vida que segue. Mas eis que, no início deste ano, assisti à seguinte apresentação:



Não preciso dizer que isso despertou em mim algo que eu não sentia por um artista há muito, muito tempo. Não sei exatamente nem se já tinha sentido. O que eu vi foi mais do que uma apresentação linda e uma música tocante. É possível perceber facilmente que ela sentia cada palavra que dizia, que aquela letra significava algo para ela. O que eu enxerguei foi sinceridade. E foi algo tão arrebatador que eu imediatamente fui procurar o CD para perceber que todo ele continha essas letras tristes, sim, mas verdadeiras como pouca coisa que eu por acaso já tenha ouvido na vida.

Outra coisa que me encanta na Adele é a simplicidade com que ela transforma suas apresentações em performances grandiosas. É como emergir de um mergulho sem cilindro de oxigênio, sabe? Escapar de um ambiente claustrofóbico para o ar puro e dar uma boa respirada. Não tenho nada contra artistas que usam muitos efeitos, fantasias e um palco cheio de distrações reluzentes, até gosto de alguns deles e realmente acho, hoje, que Lady Gaga (só para citar um exemplo) tem muito mérito no sucesso que faz. Entretanto, foi com alívio que eu assisti a várias apresentações da Adele. Sem efeitos, sem dançarinos no palco, sem roupas espalhafatosas, sem clipes polêmicos, apenas ela e sua música numa harmonia difícil de se ver no atual mercado fonográfico.

Mesmo caindo no óbvio e falando do que todas as resenhas sobre Adele já citaram, também chama atenção o biótipo nada típico que Adele exibe. Não que isso seja relevante a qualquer profissional (a não ser que você seja modelo), mas é difícil fazer tanto sucesso sem estampar capas de revistas mostrando um corpo desejável, seios siliconados, bumbum durinho sem celulites. Adele se difere de tudo isso. Gordinha, quase sempre vestida elegantemente com seus modelitos carregados de negro, cabelos e uma maquiagem retrô, sempre discretos. O que poderia representar uma desvantagem acabou se mostrando uma arma: a internet está cheia de tutoriais de moda e maquiagem sobre o estilo da Adele e muita gente procura imitar as produções da cantora. E como não querer imitar seu estilo? Parece que tudo nela se encaixa, tudo é perfeito do jeito que é.

Como se não bastasse, Adele sabe cantar! Como ela ousa ser uma cantora que realmente canta? Ela não entende que já inventaram inúmeras possibilidades de mascarar uma desafinação? Aliás, música é para divertir, não para levar a sério. Quem se preocupa com os talentos vocais de uma cantora hoje em dia? Bitch, please! Bem, não vou nem comentar sobre a simpatia que ela demonstra nos shows.

Apesar de tudo o que eu falei, o que realmente me encanta na Adele é a sinceridade que eu citei. Assistir às apresentações dela e ver que, em inúmeras, ela de fato se emociona é de deixar qualquer um apaixonado. Ela não chegou àquele palco porque uma grande gravadora enxergou nela uma possibilidade sólida de transformar alguém em sucesso, mas porque ela realmente ama o que faz e sente o que diz. Por isso tanta identificação com ela: Adele canta o que se passa no coração de muita gente que não sabe como se expressar. E mesmo que não se sinta o que Adele sente, ela convence de tal forma (porque é verdade!) que a empatia é imediata. Ame ou odeie, mas é necessário reconhecer que ela é uma artista na melhor concepção da palavra.

Eu já estava saturada de produtos criados artificialmente, de gente que se diz cantor(a) e não canta, de fantasias, de plumas, de luzes. Adele é um descanso aos ouvidos, um oásis de legítima arte em meio a um mundo carregado de tecnologia e carente de verdades e ideais (não que frustração amorosa seja ideal, acho que deu para entender perfeitamente). Adele representa sobretudo a esperança de que ser você mesmo e acreditar que isso é bom pode trazer reconhecimento; que nem só de gente magérrima, com pouca roupa e autotune se faz música quando o foco principal é, de fato, a música.

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